O nível de excelência de um artista marcial, de um lutador, de um traceur, de um freerunner, de um trickster, de um ginasta, ou de qualquer atleta, não se baseia no número ou na variedade de golpes, travas, passadas, mortais, acrobacias, piruetas que o atleta pode fazer, mas sim na qualidade em que cada um é realizado. Essa qualidade provém da disciplina e da aptidão natural quando ministradas pela mentalidade ideal do atleta. Essa mentalidade é então o único fator que o proporciona aproximar da perfeição.
A disciplina tradicional, na sua forma mais pura, proporciona crescimento, sem dúvidas. O desenvolvimento instintivo (aptidão natural), também o proporciona, indubitavelmente. Mas qual o melhor caminho então a trilhar, pois se a falta de técnica transforma o homem em um animal cego e a falta de objetividade o transforma em um ser truncado?
Se uma forma de aprendizado não apresenta variações significativas ao longo de muito tempo (como acontece nos estilos tradicionais de Kung Fu), é porque há um motivo: essa forma (considerada por muitos, obsoleta), ainda produz resultados. Caso contrário, a “seleção natural” trataria de extinguí-la. Concomitantemente, a concepção de liberdade, que o Parkour causa, apresenta um ponto a que o atleta deve se atentar. Seus ideais de independência são válidos na sua filosofia, devido à objetividade dessa atividade física (ainda para muitos) exótica. Mas essa independência e liberdade, não devem ser entendidas literalmente, quando se trata do processo contínuo de treinamento (o que, na minha visão, fortemente influenciada pelas artes marciais e pela filosofia de Bruce Lee, não deve ser um acréscimo diário, mas um decréscimo diário, em que se deve retirar o que não for útil para o crescimento). Esse processo de treinamento, quando disciplinado (a disciplina provém da mentalidade correta) é o que traz resultados para o homem, pois a procrastinação não gera evolução. Ela não deve ter lugar nessa vida do movimento. Citando Jean-Jacques Rousseau: "O exercício tanto torna o homem saudável, como sábio e justo. (...) Quanto maior sua atividade física, maior sua aprendizagem".
Dessa forma, o tradicional em detrimento da vanguarda e vice-versa, embora faça com que o atleta cresça, essa não é a forma de crescimento máximo. O ponto-chave é o equilíbrio. A proficiência não se atinge por pura inspiração e filosofia, nem por esforço contínuo às cegas e muito menos por negligência às formas originais da arte (David Belle não se esqueceu do Parcours du Cambattant, nem do Méthode Naturelle que conheceu graças a seu pai, Raymond Belle. Bruce Lee, mesmo depois de ter fundado o Jeet Kune Do, não negou ter sido aluno de Yip Man, mestre de Wing Chun).
Muitas vezes, o atleta pode se perguntar se ele está realmente no caminho certo, se dessa forma, seus objetivos serão alcançados. A resposta para tais indagações pode ser encontrada no Yin Yang. A evolução não é estática. Não é fixa. É necessário ter essa ideia em mente.
Nenhum comentário:
Postar um comentário